OS OLHOS DA RAINHA ELEFANTA

Cada passo que damos tem o poder de curar e transformar. 
Através dos nossos passos podemos nos curar e ajudar a curar a Terra e o ambiente.

O Sutra Mahaparinirvana descreve o último ano da vida de Buda – os lugares visitados por ele, as pessoas que ele encontrou, e ensinamentos que ele deu. Neste sutra está dito que Buda só passou os Retiros de Inverno perto da cidade de Vaishali, norte do Rio Ganges, e que ele depois decidiu viajar para o norte retornando à sua cidade natal, Kapilavastu. Embora soubesse que esta seria a última vez que veria a linda cidade de Vaishali, Buda não levantou a mão para acenar um adeus. Ao invés, encontramos esta locução no sutra:
 Buda, a caminho, virou-se; e com os olhos de uma rainha elefanta examinou a cidade de Vaishali pela última vez e disse, “Ananda, você não acha que a cidade de Vaishali é bela?”

Depois de ter examinado a cidade de Vaishali com um olhar gentil que compreendia toda a sua beleza, Buda se voltou para o norte e começou a andar.

Quando Buda olha, ele faz isto com os olhos de uma rainha elefanta para olhar profundamente e reconhecer o que está ali. Nós também temos os olhos de Buda e da rainha elefanta. Se você olha profundamente a beleza da natureza a sua volta, você está olhando com os olhos de Buda. É extremamente amável de sua parte olhar em nome de Buda, contemplar o mundo por Buda, porque você é a continuação dele.

Então, quando você praticar meditação sentada, sente-se por Buda. O Buda dentro de você está sentando ereto, o Buda em você está desfrutando cada inspiração e expiração, o Buda dentro de você está contemplando o mundo com consciência plena e entrando em contato com a beleza da natureza.

Se você souber contemplar a beleza da natureza com os olhos de Buda, não dirá que sua vida não tem significado. Você pode ouvir com os ouvidos de Buda, você pode contemplar o mundo com os olhos de Buda e graças a isto, os seus filhos e netos também serão capazes de olhar e contemplar como Buda. Você transmite Buda aos seus filhos e netos, através de como você anda, senta, olha e escuta, mesmo através da maneira como você come. Isto é algo que você consegue fazer agora. Comece hoje, você já pode ser uma continuação real e verdadeira de Buda, nosso ancestral espiritual.

Cada minuto das nossas vidas diárias é uma oportunidade para andarmos como um Buda, escutar com compaixão como um Buda, sentar tão cheio de paz e alegria como um Buda, e olhar profundamente e desfrutar das belezas do mundo como um Buda. Ao fazer isto, estamos ajudando nosso pai, nossa mãe, nossos ancestrais, e filhos dentro de nós a evoluírem, e estamos também ajudando o nosso professor a cumprir o voto dele, a aspiração dele. Deste modo, nossa vida se tornará verdadeiramente uma concreta mensagem de amor. Vivendo nossas vidas deste modo, nós podemos ajudar a impedir que o aquecimento global prejudique nosso planeta.

Quando olhamos profundamente para dentro de nós mesmos, podemos identificar elementos do Reino de Deus que estão disponíveis no aqui e agora. Para mim a Reino de Deus ou a Terra Pura de Buda não é uma idéia vaga, é uma realidade. Àquele pinheiro de pé sobre a montanha é tão bonito, sólido e verde. Para mim, o pinheiro pertence ao Reino de Deus, a Terra Pura de Buda. Sua linda filha sorrindo cheia de frescor pertence ao Reino de Deus, e você também pertence ao Reino de Deus. Se formos capazes de reconhecer o fluente rio, o céu azul, a árvore florida, o pássaro cantante, as montanhas majestosas, os inúmeros animais, a luz do sol, a neblina, a neve, as inúmeras maravilhas da vida como milagres pertencentes ao Reino de Deus, faremos o melhor que podemos para preservá-los e não permitir que sejam destruídos. Se reconhecermos que este planeta pertence ao Reino de Deus, iremos apreciá-lo e protegê-lo para que possamos desfrutá-lo por muito tempo, e também nossos filhos e netos terão a chance de desfrutá-lo.

Buda nos ensina sobre o ciclo do samsara, um ciclo no qual o mesmo sofrimento se repete. Se não praticarmos, não seremos capazes de sair dele. Com a respiração consciente, o caminhar consciente e o habitar conscientemente no momento presente, não precisamos consumir e correr atrás de objetos de anseios para ser feliz. Em nosso mosteiro em Plum Village, ninguém tem suas próprias contas bancárias, ninguém tem um carro próprio ou um telefone celular privado, e os monges, monjas e pessoas laicas que vivem aqui não recebem salário algum. No entanto, existe alegria e felicidade, existe irmandade. Não mais precisamos do “sonho americano”. Inspirando, entramos em contato com as estrelas, a lua, as nuvens, a montanha, o rio. Quando a energia da consciência plena e concentração habitam em nós, cada passo que nós damos leva-nos para dentro do Reino de Deus, da Terra Pura de Buda.

Quando olhamos profundamente para uma flor, vemos os elementos que se reuniram para permiti-la se manifestar. Podemos ver nuvens se manifestando enquanto chuva. Sem a chuva, nada consegue crescer. Quando toco a flor, estou tocando a nuvem e tocando a chuva. Isto não é apenas poesia, é realidade. Se tirarmos as nuvens e a chuva da flor, a flor inexistirá. Com olhos de Buda, somos capazes de ver as nuvens e a chuva na flor. Podemos tocar o sol sem queimar os dedos. Sem sol nada consegue crescer, portanto não é possível retirar o sol da flor. A flor não consegue existir enquanto uma entidade separada; ela tem que inter-ser com a luz, com as nuvens, com a chuva. A palavra “inter-ser” está mais próxima da realidade do que a palavra “ser”. Ser realmente significa inter-ser.

O mesmo é verdade para mim, para você e para Buda. Buda tem que inter-ser com tudo. Inter-ser e inexistência de self são os objetos de nossa contemplação. Temos que nos treinar para que em nossas vidas diárias possamos tocar a verdade da inter-existência e da inexistência do eu autônomo todo momento. Você está em contato com as nuvens, com a chuva, com as crianças, com as árvores, com os rios, com seu planeta, e este contato revela a verdadeira natureza da realidade, a natureza da impermanência, inexistência do eu autônomo, interdependência e inter-existência.

Estivemos destruindo nossa Mãe Terra da mesma forma que bactérias ou vírus podem destruir um corpo humano. A Mãe Terra é também um corpo. É claro que existem bactérias que são benéficas para o corpo humano, que protegem o corpo e ajudam a gerar enzimas que precisamos. Similarmente, se espécies humanas acordam e sabe viver com responsabilidade, compaixão e amorosidade, a espécie humana pode ser um organismo vivo com a capacidade de proteger o corpo da Mãe Terra. Temos que compreender que inter-existimos com nossa Mãe Terra, que vivemos com ela e morremos com ela.

É maravilhoso perceber que fazemos parte de uma família, somos todos filhos da Terra. Devemos cuidar uns dos outros e devemos cuidar do nosso meio ambiente, e isto é possível com a prática de estarmos conectados como uma grande família. Uma mudança positiva na consciência individual trará uma mudança positiva na consciência coletiva. Proteger o planeta deve ser a prioridade. Espero que você tenha tempo de se sentar, beber chá com seus amigos e familiares e discutir estes assuntos. Convide a Bodisatva Portadora da Terra para se sentar e colaborar com você. Depois tome a decisão e aja para salvar nosso lindo planeta. Mudar o seu modo de vida lhe trará muita alegria imediatamente e com a sua primeira respiração consciente, a cura se iniciará.

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